Dirlene Pereira
Eje Temático: Formas Políticas
O presente trabalho pretende versar sobre as chamadas reformas neoliberais sob a perspectiva da “analítica do poder” desenvolvida pelo filósofo francês no contexto de crise da “sociedade disciplinar”. Nesse sentido, buscamos apresentar os principais deslocamentos efetuados pelo pensador diante da ineficácia dos instrumentais teórico- conceituais disponíveis em sua época, sobretudo em relação a teoria jurídica clássica do poder (soberania) e uma certa corrente do marxismo que tem em comum o que Foucault chama de “economismo”, caracterizadas por uma analogia manifesta entre poder e bens. Distintamente da concepção contida nessas duas teorias – da funcionalidade do poder e/ ou determinação econômica do poder – a análise de Foucault acaba por fazer aparecer entre as esferas da política e da economia uma outra relação, cuja indissociabilidade não seria nem da ordem da subordinação ou da isomorfia formal, mas remetente à uma tradição ocidental que estabeleceu uma relação entre saber e poder que Foucault designará por “regime de verdade”, característico da “era da política”, vigente até hoje, que remonta à antiguidade grega e que fundamenta o domínio da justiça e de sua administração. Assim, a ampla agenda de reformas que vemos em curso desde os anos de 1970, denominada de neoliberalismo, será analisada como uma modalidade do exercício do poder político, análise que parte não das instituições ou do recuso a categoria de ideologia, mas do estudo dos seus mecanismos e dispositivos. Nos cursos ministrados no Collège de France, Em Defesa da sociedade (1975-76), Segurança, Território e População (1977-78) e Nascimento da Biopolítica (1978-79), ao buscar compreender como se estabeleceu o domínio da prática do governo – com seus diferentes objetivos e regras gerais – a fim de governar da melhor maneira possível – em suma, a racionalização da prática governamental no exercício da soberania política – Foucault efetuará em deslocamento em relação ao eixo saber-poder, donde emerge a noção de governamentalidade. Esta noção permitiu a Foucault perceber o encadeamento entre as técnicas do governo dos outros, tais como a disciplina analisada em Vigiar e Punir (1975), e as técnicas de si, para enfim compreender as íntimas relações entre as formas políticas de governo dos outros e as formas segundo as quais os homens conduzem a si mesmos, levando-o a repensar a prática e a teoria política.
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