domingo, 20 de abril de 2014

Cicatrizes do político no corpo da mulher: uma estética de violência

Cicatrizes do político no corpo da mulher: uma estética de violência 

Aline Fernandes de Azevedo (Capes PNPD - IEL/Unicamp)


Neste trabalho apresentamos algumas reflexões presentes no estudo de pós-doutorado “A discursividade do Parto Humanizado: videobiografias do corpo feminino”, desenvolvido no Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, sob a supervisão do professor Lauro José Siqueira Baldini, e vinculado ao Grupo de Pesquisa CNPQ - “Mulheres em Discurso” (Processo 487140/2013-3), coordenado pela professora Mónica Graciela Zoppi Fontana. Consideramos a hipótese de que a discursividade do Parto Humanizado, movimento social cuja pauta defende o direito ao parto sem intervenções médicas, nos ajuda a compreender a opacidade do corpo da mulher como lugar de disputa política, materialidade significante na qual a fronteira entre o público e o privado se produz como uma marca do político, de um corpo feminino subordinado a uma estética de violência. Para defender esta ideia, apresentaremos a análise de montagens fotográficas publicadas no jornal a Folha de S. Paulo, no caderno Cotidiano do dia 12/03/2014, que retratam corpos submetidos a algum tipo de violência obstetrícia e cuja carne expõe cicatrizes: uma memória viva que presentifica um momento de agressão, dor e sujeição da mulher ao saber médico, ocidental e predominantemente machista. Partimos, pois, da superfície linguística de nossos recortes para compreender os embates de sentido e poder que se textualizam nos contornos destes corpos, tocando questões como a biopolítica (FOUCAULT, 1994), de um posicionamento teórico que leva em conta a forma como ideologia e o inconsciente se marcam em um corpo atravessado pela história. Sustentaremos nossas análises nos procedimentos da Análise Materialista de Discurso, particularmente em sua filiação à teoria do discurso de Michel Pêcheux (1975) e à teoria da ideologia de Louis Althusser (1985). Consideramos, a partir de Althusser (1985), que o corpo da mulher é submetido a mecanismo ideológico de sujeição realizado sob um conjunto de práticas, rituais que tem relação com instituições concretas e efetivam a reprodução das relações de dominação em uma formação social. Neste sentido, as análises mostram que a prática médica, que se situa no âmbito dos aparelhos de Estado, instrumentaliza o corpo da mulher como lugar de exercício de poder, instituindo-o como um corpo submetido a uma estética ideológica de violência. Palavras-chave: corpo; mulher; medicalização; estética de violência.

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