domingo, 26 de abril de 2015

Estado e Terceiro Setor na Assistência Social Brasileira

VI Jornadas Debates Actuales de la Teoría Política Contemporánea - 2015
Estado e Terceiro Setor na Assistência Social Brasileira

Rosely Bittencourt (Doutora em Educação pela UDE – Uy. Instituto Tecnológico e Educacional ITECNE, sede Curitiba.)

Leandro Meller (Advogado. Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social)


Resumen

O Brasil, historicamente, não é marcado por rupturas e sua modernização foi conservadora, com soluções impostas pelas classes dominantes, para atender aos interesses hegemônicos. Neste cenário é impreciso o surgimento de organizações representativas da sociedade civil, contudo são nas décadas de 70 e 80, em pleno regime militar mas já com sinalização de redemocratização, que as organizações não governamentais surgem, com financiamento externo, como estratégia de enfrentamento ou demanda contra o Estado. Em meados da década de 80 e fundamentalmente na década de 90, as organizações que integram hoje o que se convencionou chamar de terceiro setor, se fortalecem como prestadores dos serviços até então executados pelo Estado, numa bem sucedida iniciativa de transferência de responsabilidades.

O Partido dos Trabalhadores – PT, que ascende ao poder no Governo Federal em 2004, integra a história do terceiro setor, através dos movimentos sociais. O PT nasce, na década de 80, da necessidade de criar um canal de expressão política e partidária dos trabalhadores e dos setores explorados e oprimidos pelo capitalismo. É um Partido de massas que acolheu a diversidade de tendências, sem advogar uma filosofia única, mas com unidade de horizonte: construir o socialismo e uma sociedade sem opressores e oprimidos.

Quando surge, sua opção incondicional pelos oprimidos o faz rejeitar os opressores, assim, advoga a superação do capitalismo, questiona a macroestrutura de poder, o imperialismo, o latifúndio e o monopólio, bem como recusa a classe dos patrões. Seu discurso é o da ruptura: da ordem econômica capitalista, da dependência externa, dos acordos com o FMI, do controle dos monopólios e latifúndios. Para conseguir a ruptura necessária, defende a emancipação e a independência político-ideológica dos setores populares, através da participação organizada e consciente. Propõe um governo democrático popular revolucionário, compromissado com a liberdade e a igualdade, que prepara as condições políticas e acumula forças para a revolução socialista.

Para o PT da década de 1980, a tomada do poder do Estado pelos trabalhadores é condição fundante a uma nova sociedade, acrescendo a defesa de formas diretas e massivas de participação popular para a realização desse projeto societário. Engajado nas lutas sociais e intimamente ligado aos movimentos populares, nos moldes dos partidos revolucionários do século XX, representa a visão messiânica e o discurso transformador. No entanto, acompanhando a dinâmica societária, o PT também sofre alterações no decorrer de sua história.

Na década de 1990 o PT abandona o discurso de ruptura e de ditadura do proletariado e privilegia o eixo de argumentação na exclusão e na pobreza, subordinando a este as questões macroestruturais. Propõe uma inversão de prioridades, subordinando o econômico ao social. Define uma ampla frente de alianças e de apoio com as esquerdas para a implantação de uma proposta de revolução democrática, com propostas de largo prazo, para combater a exclusão, romper com a ordem neoliberal e refundar uma perspectiva socialista para o país.

Distanciado dos movimentos sociais, o PT dos anos 2000, assume a Presidência da República (2004 até hoje), a partir de ampla aliança com setores de esquerda, de centro e apoio de parcela da direita, em uma coalizão com adversários históricos, políticos e empresariais, que daria ensejo a um pacto social. Rompe com discurso revolucionário e aponta para uma mudança processual da sociedade, com negociação e entendimento. O discurso sobre as mudanças a serem realizadas no país, agora moderado, se sustenta na coragem e no cuidado.

Mantém o discurso histórico da ética e do combate à corrupção, mas se depara com sua própria dialética e contradições, vivenciando crises internas e embates com o governo que o representa. Busca a sua reconstrução a partir das fraturas expostas à sociedade.

No Governo, caracterizado como de centro-esquerda, defende um projeto de Nação, democrático, com Estado ágil, desprivatizado e autônomo para a formulação e a gestão das políticas públicas que visem o resgate da cidadania ao povo brasileiro e a redução da vulnerabilidade externa. Imprime uma perspectiva humanista às propostas e reitera seu compromisso com as questões sociais., tendo o social como o seu eixo do desenvolvimento, razão pela qual prioriza as políticas de assistência social.

Na área da Assistência Social, consolida a Política Nacional da Assistência Social e, nela, o Programa Bolsa Família, programa de transferência de renda à população em vulnerabilidade social. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) aprovada pela Resolução n°15, de 15 de outubro de 2004, do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e a Norma Operacional Básica aprovada pela Resolução nº 130 de 15 de julho de 2005, consolidam a Proteção Social como uma das funções da política pública de assistência social no Brasil e estabelecem princípios reguladores.

A assistência social cuja execução, historicamente, é compartilhada com organizações de terceiro setor que emergem particularmente na década de 1990 e que expandem o conceito dominante de serviços sociais prestados por caridade e filantropia, na via do assistencialismo e da benemerência.

Com a institucionalização e consolidação da PNAS, a centralidade da assistência social passa a ser do Estado, mas com seus serviços e programas podendo ser realizados pelas ONGs ou subsidiados pelo Estado, sendo a “terceirização” uma solução que encampa o conceito de função social. Contudo, um novo elemento no cenário público-privado brasileiro desponta com a Lei 13.019/2014, a ser implantada em meados de 2015, que estabelece o regime jurídico e normas gerais das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, estabelecidas pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios com organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público. ,

Considerando que há aproximadamente 17.000 organizações da sociedade civil que ofertam serviços socioassistenciais, distribuídas em 2.414 municípios brasileiros, a maioria de pequeno porte, que não têm quadro funcional ou capacidade técnica para atender ao que propõe tal legislação, a relação entre Estado e Organizações não Governamentais é tensionada e se traduz pela tentativa de alteração do marco regulatório pelas ONGs e sem aparente recuo e/ou abertura pelo Estado.

No hay comentarios:

 

Licencia CC:

Creative Commons License
Debates Actuales de la Teoría Política Contemporánea by Colectivo Debates Actuales is licensed under a Creative Commons Atribución-No Comercial-Sin Obras Derivadas 2.5 Argentina License.

Estadísticas Públicas

Software Libre

Este blog es realizado con software libre
Ubuntu 10.10

Debates Actuales de la Teoría Política Contemporánea Este Blog es desarrollado con Software Libre - Ubuntu 9.10 - Copyright © 2009 Gadget Blog is Designed by Ipietoon Sponsored by Online Business Journal