Ciência, política e cultura: o conceito de planejamento democrático em karl mannheim
Thiago Pereira da Silva Mazucato (UFSCar)
Através da análise de quatro obras fundamentais de Karl Mannheim (Ideologia e Utopia; Sociologia da Cultura; Liberdade, Poder e Planificação Democrática; Sociologia Sistemática) demonstramos como o conceito de planejamento democrático pode ser considerado como uma síntese dinâmica entre as forças conservadoras e as forças progressistas (núcleo duro da perspectiva política da Terceira Posição proposta por Mannheim), cujos valores principais são a liberdade, a democracia e a tolerância, e que perpassam por três esferas fundamentais da vida social e econômica: a cultural, a científica e a política. Apresento inicialmente um panorama da trajetória intelectual de Karl Mannheim, incluindo aspectos históricos e biográficos e também um quadro sintético de toda a sua obra, o que permitirá situar tanto seus temas fundamentais como o recorte das obras selecionadas para o presente trabalho. Aponto também que durante este percurso teórico Mannheim trabalhará temas ligados a epistemologia e à sociologia do conhecimento, chegando a temas eminentemente vinculados à política e ao poder, momento em que partirá para a construção de sua teoria da Terceira Posição, com a qual Mannheim teve que lidar com duas tensões fundamentais: (i) entre as tendências de mudança e as tendências de preservação (já presentes em sua teoria política e em sua ontologia social do final da década de 1920, principalmente na obra Ideologia e Utopia, mas também em outras obras que, sempre que possível, também apontaremos durante o trabalho), que se originam em forças sociais e projetos políticos diferentes, e que precisam ser mediadas pela síntese dinâmica para a construção da “mudança com estabilidade” e (ii) entre cultura, ciência e política como esferas da existência humana, ancoradas nas dimensões econômica e social, e que proporcionam uma pluralidade de sentidos para a vida que precisa ser mediada pelo exercício da tolerância para garantir a “democracia cultural”. Desta forma fica evidente que o planejamento democrático se faz pela atuação do Estado tendo como métodos fundamentais a democracia cultural e a síntese dinâmica. Levantamos também a questão sobre democracia cultural e valores sociais, trabalhadas principalmente em Sociologia da Cultura, mas que Mannheim traça um paralelo das mesmas enquanto processos simultaneamente sociais e psíquicos em Sociologia Sistemática (este paralelo é de grande importância para que se compreenda aspectos fundamentais da teoria social e política de Mannheim). Por fim apresento como conclusão o diagnóstico que Mannheim faz da situação ao término da Segunda Guerra Mundial no qual existe uma “lacuna da racionalidade” (tema lapidado principalmente em Liberdade, Poder e Planificação Democrática) que é fruto de uma trajetória de mais de quatro séculos, desde a passagem da Tradição para a Modernidade e que, na primeira metade do século XX seria a grande responsável por gerar uma crise de sentidos que somente poderia ser resolvida através do Planejamento Democrático, uma solução mediadora entre os conflitos dos indivíduos com a sociedade, constituindo-se, para Mannheim, na única saída possível que consiga ao mesmo tempo evitar o liberalismo e o totalitarismo (frutos da irracionalidade do início do século XX que teriam gerado duas guerras e uma crise econômica com dimensões mundiais), e caminhar para a construção de uma sociedade democrática.
Palavras-Chave: Planejamento Democrático, Síntese Dinâmica, Karl Mannheim.
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